As causas da crise
1) Aumento da População e do Consumo: A população está crescendo, e deve chegar a 9 bilhões até 2050. A economia mundial cresceu 20% nos últimos 4 anos, aumentando o consumo de alimentos em países emergentes como China, Índia e Brasil, onde vive mais de 30% da população mundial. Uma mudança de padrão de consumo é suficiente, portanto, para uma alteração significativa na economia global. A população desses países também está se tornando mais urbana. Ou seja, deixou de produzir seu alimento para comprá-lo, tornando necessário que se produza mais comida para atender às cidades. O crescimento da renda dos trabalhadores nesses países mudou seu consumo. Em 1985, cada chinês consumia em média 20 quilos de carne por ano. Hoje, consome 50. Maior consumo de carne quer dizer maior consumo de grãos.
2) Recordes Sucessivos no Preço do Petróleo: A alta dos preços dos alimentos está ligada ao petróleo e à crise energética. O preço do barril aumentou 110% entre o início de 2007 e abril de 2008, o que elevou o custo de distribuição de alimentos e dos insumos. No caso dos fertilizantes, o preço da tonelada chegou a dobrar.
3) Os Especuladores e a Queda do Dólar: A crise global de crédito fez com que investidores procurassem os fundos de commodities como alternativa, ajudando a aumentar os preços. Muitos fundos têm usado as bolsas para especular com a compra de safras futuras em busca de melhor rentabilidade, o que contribui para valorizar o preço de commodities como o trigo e o arroz.
4) Aumento da Produção Destinada aos Biocombustíveis: Com o petróleo muito caro, os países buscam alternativas para substituí-lo, como o etanol. O etanol gera a ampliação de cultivos que possam produzi-lo, tornando-os mais caros; pode propiciar a quebra de proprietários que não conseguem concorrer com os grandes fazendeiros de cultivos “energéticos” e, ainda, provocar a substituição de cultivos alimentares por “energéticos” pelos agricultores que almejam maiores lucros. Um dos cultivos usados para produzir etanol é o milho, que aumentou seu preço e também os custos de produtos bovinos e suínos, já que é usado em rações animais.
5) Fatores Naturais que Atrapalham a Produção Agrícola: Secas, enchentes, pragas e doenças nos rebanhos provocam graves quebras de safra. A Austrália, segundo maior exportador de trigo, teve forte seca. Projeções dão conta de uma redução de 10% nas chuvas até 2030, gerando uma queda de 10% no trigo, carne bovina, lácteos e açúcar. Nos últimos três anos, o Brasil teve secas profundas e perdeu 40 milhões de toneladas de grãos.
6) A Política de Subsídios Agrícolas: Os países mais ricos, para fortalecer sua produção, concedem “financiamentos” com taxas de juros baixíssimas ou “bancam” seus agricultores. Com isso, os de países mais pobres não conseguem competir com eles e acabam falindo, reduzindo a produção de alimentos.
7) Travamento às Exportações: Com o risco de desabastecimento, grandes países produtores estão impedindo a exportação, agravando o cenário nos países importadores.
8) O Desperdício de Alimentos: Em 1999, o Brasil desperdiçou 39 milhões de toneladas de alimentos, o suficiente para alimentar 19 milhões de pessoas. A essa quantidade jogada fora é associado um imenso desperdício de água, o que encarece mais os alimentos. Um quilo de carne bovina, por exemplo, “inclui” de 10 a 20 mil litros de água e, um quilo de arroz, de mil a dois mil litros.